Caminhos para bons resultados no aprendizado
Na música “Pequenas Alegrias da Vida Adulta”, o cantor Emicida enumera, com humor e leveza, situações que trazem satisfação no mundo adulto e na vivência da maternidade e paternidade: achar um tupperware que a tampa ainda encaixa, o gol da virada que evita um rebaixamento, uma promoção de fraldas na drogaria, um sábado de paz onde se dorme mais. E enfatiza: “triunfo hoje pra mim é azul no boletim”.
Pois bem: quem é pai, mãe ou responsável por filhos em idade escolar já deve ter experimentado a sensação de satisfação cantada neste verso pelo artista ou o seu oposto: a preocupação com o desempenho escolar do filho quando as coisas não vão muito bem.
A boa notícia, ao começar mais uma etapa do ano letivo, após as férias de julho, é que, se as coisas não andam como se gostaria, ainda há tempo para recalcular a rota. Quem dá as dicas é a diretora pedagógica da Escola Monteiro, Penha Tótola, que acumula mais de 30 anos de experiência em educação.
“Quanto antes o trabalho for iniciado, melhor. E o primeiro passo nesse sentido é ampliar o olhar e entender que “notas baixas” refletem o resultado de um processo que envolve muitos fatores e exige envolvimento e atitude”, ressalta.
Para ela, fazer-se presente e acompanhar de perto a vida escolar do filho é fundamental e isso inclui dialogar com a criança e com a escola, frequentar reuniões de pais e professores, colocar-se próximo e disponível para a escuta, entendendo que nem sempre a dificuldade é resultado do desinteresse ou do descaso do aluno. E que, mesmo se assim for, é preciso aguçar o olhar para essa falta de interesse para compreender suas razões em busca de soluções mais assertivas e de bons resultados.
“Vale ressaltar o quanto é importante que a escola adote uma postura aberta ao diálogo e considere o processo educacional como um espaço de construção e parceria com a família. Além disso, instituição e pais de alunos devem entender que o estudante é muito mais do que a nota que ele obteve numa prova ou no boletim. O aluno é um ser humano em formação que carrega histórias próprias, experiências, competências, habilidades e, eventualmente, dificuldades que fazem dele o ser singular e especial que é”, considera.
Penha afirma, com base em sua experiência, que essa compreensão é, por si só, capaz de mudar as coisas na medida em que reduz possíveis sentimentos de inadequação, não pertencimento e baixa autoestima, que podem surgir quando alguma coisa não acontece dentro do esperado.
“Outro ponto essencial é a mudança de atitude em casa, para estimular a criança a superar as dificuldades que encontrou. Um exemplo é quando o aluno sempre teve boas notas e, de repente, tem queda de rendimento em várias matérias. Nesses casos, é importante ficar atento a situações de conflito, mal-estar ou que tenham causado abalo na autoestima”, reforça.
Se a dificuldade for em uma matéria ou outra, ela aponta o reforço escolar na própria escola ou com profissionais bem selecionados e qualificados como um bom caminho, além de ajudar o aluno a criar uma rotina de estudos, organizar seu tempo e cumprir as tarefas escolares.
“A rotina ajuda a fazer do aprendizado uma construção diária e funciona melhor do que deixar tudo acumulado para a véspera de uma prova. E, dessa forma, o aluno entende que não se trata apenas de tirar uma boa nota, mas sim de aprender e adquirir conhecimento”, orienta.
Não comparar notas nem com irmãos e nem com colegas é outra postura recomendada para evitar a competitividade tóxica, que pode ter consequências na autoestima da criança e deixá-la desestimulada.
“Muitas vezes, uma eventual nota baixa pode se tornar um espaço para o crescimento, para o diálogo e para a compreensão de que nem sempre, na escola e na vida, as coisas saem como o esperado, ressaltando a importância de valores como persistência, coragem e resiliência na formação desse indivíduo. É possível, portanto, fazer do obstáculo uma ponte e isso também é aprendizado”, afirma.